Veremos
aqui a importância da escatologia e como o seu uso com cuidado e
respaldo bíblico contribui para a boa interpretação das profecias bíblicas.
Estudaremos os seus métodos e princípios básicos de interpretação, bem como a
sua relação com os aspectos presentes e futuros da profecia bíblica.
INTRODUÇÃO
Escatologia
é um termo constituído de duas palavras gregas: escathos e logos, que se
traduzem por “últimas coisas” e “tratado” ou “estudo”. É o estudo acerca de
coisas e eventos futuros profetizados na Bíblia. Nas primeiras palavras do
texto de Ap 1.1 podemos entender o sentido da escatologia para a Igreja:
“Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, para mostrar aos seus servos
as coisas que brevemente devem acontecer”. Em resumo, significa para os
cristãos “o estudo ou a doutrina das últimas coisas”.
I. O CAMPO DA ESCATOLOGIA BÍBLICA
1. A escatologia tem sua base na revelação divina.
A
Bíblia é a revelação da vontade de Deus à humanidade. Inicialmente, Deus
escolheu a semente de Abraão, ou seja, o povo de Israel, para revelar a sua
vontade. Mais tarde, Deus ampliou o campo da sua revelação e formou um novo
povo, a Igreja, constituída de judeus e gentios (Ef 2.11-19).
A
partir de então, a Igreja é o alvo da revelação divina. Toda a revelação aponta
para o futuro e a Igreja caminha neste mundo com uma esperança, pois é
identificada como “peregrina e forasteira”, 1Pe 2.11. Ela existe por causa da
esperança (Rm 5.2; 8.24; Ef 4.4; 1Ts 4.13). A esperança indica uma meta; traça
planos para um futuro. O mundo pagão se fecha dentro de um fatalismo histórico,
sem expectativas, sem futuro, mas a Bíblia revela o futuro.
2. A escatologia pertence ao campo da profecia.
A
preocupação principal do estudo da escatologia é interpretar os textos
proféticos das Escrituras. As verdades proféticas se tornam claras e definidas
quando se tem o cuidado de interpretá-las seguindo os princípios de
interpretação, observando o seu contexto histórico e doutrinário. O apóstolo
Pedro teve o cuidado de explicar essa questão quando escreveu: “E temos mui
firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma
luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva
apareça em vosso coração”, 2Pe 1.19. Na verdade, o apóstolo procura contrastar
as ideias humanas com a palavra da profecia escrita na Bíblia. Ele fortalece a
origem divina das Escrituras e da sua profecia.
Não podemos duvidar nem admitir
falha na Palavra de Deus. Ela é inspirada pelo Espírito Santo (2Tm 3.16). A
inerrância das Escrituras tem sua base na infalibilidade da Palavra de Deus.
Outrossim, o mesmo autor declara que “nenhuma profecia da Escritura é de
particular interpretação; porque a profecia nunca foi produzida por vontade de
homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito
Santo”, 2Pe 1.20,21.
II. MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO DA ESCATOLOGIA
Na
história da Igreja têm sido adotados vários métodos de interpretação no que
concerne às escrituras proféticas. Eles têm produzido explicações e posições
que obrigam os cristãos a serem cautelosos. Há idéias divergentes, por exemplo,
com respeito ao arrebatamento da Igreja. Alguns o admitem antes e outros crêem
que se dará no meio da Grande Tribulação. As teorias são várias, mas precisamos
ser definidos sobre o assunto. Para isso, dois métodos de interpretação devem
merecer a nossa atenção.
1. O método alegórico ou figurado.
Alguns
teólogos definem a alegoria “como qualquer declaração de fatos supostos que
admite a interpretação literal, mas que requer, também, uma interpretação moral
ou figurada”. Quando interpretamos uma profecia bíblica, sem atentarmos para o
seu sentido real, figurado ou literal, negamos o seu valor histórico, dando uma
interpretação de somenos importância. Corremos o risco de anular a revelação de
Deus naquela profecia. Daí, as palavras e os eventos proféticos perderem o
significado para alguns cristãos.
Quando
o sentido de uma profecia é literal e se interpreta alegoricamente, se está, de
fato, pervertendo o verdadeiro sentido da Escrituras, com o pretexto de se
buscar um sentido mais profundo ou espiritual. Por exemplo, há os que
interpretam o Milênio alegoricamente. Não acreditam num Milênio literal. Por
esse modo, além de mutilarem o sentido real e literal da profecia, anulam a
esperança da Igreja.
Tenhamos
cuidado com interpretações feitas superficialmente ao bel-prazer das especulações
do intérprete, com ideias próprias ou ao que lhe parece razoável. Declarações
como: “eu penso que é isso”, “eu sinto que é isso”, são típicas de
interpretações vaidosas, irresponsáveis e vazias de temor a Deus. Portanto, o
método alegórico deve ser utilizado corretamente. Paulo utilizou-o em Gálatas
4.21-31. Ele tomou as figuras ilustradas no texto com fatos literais da antiga
dispensação, mas apresentou-os como sombras de eventos futuros.
2. O método literal e textual.
Esse
é o método gramático-histórico. Isto é: se preocupa em dar um sentido literal
às palavras da profecia, interpretando-as conforme o significado ordinário, de
uso normal.
A
preocupação básica é interpretar o texto sagrado consoante a natureza da inspiração
da profecia. Uma vez que cremos na inspiração plena das Escrituras através do
Espírito Santo, devemos atentar para o fato de que há textos que têm apenas um
sentido espiritual, sem que exija, obrigatoriamente, uma interpretação literal
ou figurada.
Ambos
os métodos são válidos, mas devem ser utilizados com cuidado e precisão. Há uma
perfeita relação entre as verdades literais e a linguagem figurada. Temos o
exemplo bíblico da apresentação de João Batista no texto de João 1.6, que diz:
“Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João”. Notemos que o texto está
falando literalmente de um homem, cujo nome, de fato, era João.
Os
termos empregados referem-se literalmente a alguém fisicamente. Mais tarde,
João Batista, ao identificar Jesus, usou uma linguagem figurada, quando diz:
“Eis aí o Cordeiro de Deus”, Jo 1.29. Na verdade, Jesus era um homem real e
literal, mas João usou a forma figurada para denotar o sentido literal da
pessoa de Jesus.
III. A PROFECIA NA PERSPECTIVA ESCATOLÓGICA
Não
entenderemos a profecia bíblica se a confundirmos com “o dom da profecia”. A
profecia bíblica tem um caráter inerrável, porque ela está nas Escrituras
inspiradas pelo Espírito Santo. A profecia, como dom do Espírito, tem a sua
importância no contexto da Igreja de Cristo na Terra, pois depende de quem a
transmite e, por isso, sujeita a erro e julgamento (1Co 14.29), e não pode ter
validade se a mesma choca-se com o ensino geral das Escrituras.
1. A profecia cumprida e a futura.
Para
que a profecia bíblica tenha o crédito que merece, devemos estudá-la no que
concerne ao que já foi cumprido e, também, referente ao futuro. Uma grande
parte dos livros da Bíblia contém predições. Quando estudamos as profecias
cumpridas podemos enxergar o seu caráter divino, e fazer distinção com as
profecias não cumpridas. Jesus, em seu discurso aos discípulos no aposento
alto, falou do ministério do Espírito Santo após sua ascensão aos céus, e
disse: “Ele vos ensinará e vos anunciará as coisas que hão de vir”, Jo 16.13.
2. A profecia e o ministério da Palavra.
Toda
declaração bíblica sobre profecia é tão crível quanto àquelas declarações
históricas. Certo autor de teologia declarou que “a história da raça humana é a
história da comunicação de Deus com o homem”. Deus mesmo recorre à sua Palavra,
não como uma simples evidência da verdade declarada, mas como a única forma
pela qual nós podemos obter uma perfeita e completa visão do propósito divino
em relação à salvação. Por isso, precisamos observar a história do passado,
presente e futuro. Devemos ter confiança de que assim como teve cumprimento a
Palavra de Deus no passado e o tem no presente, o mesmo acontecerá com as
profecias relacionadas ao futuro.
CONCLUSÃO
As
Escrituras Sagradas apresentam um só sistema de verdade. Não importa o que
dizem as várias escolas de interpretação. Suas interpretações podem variar e
até estar equivocadas. E, nem a Bíblia se presta a dar apoio a qualquer sistema
de interpretação. O futuro é uma parte do plano de Deus, e só Ele conhece tudo
o que encerra a profecia. As opiniões humanas têm valor enquanto estiverem em
conformidade com as Escrituras.
Fonte:
Lições
bíblicas 3º Trimestre de 1998, CPAD
Comentarista:
Elienai Cabral
Divulgação:
Perto do Fim